Hub de conteúdo para provedores locais de internet deve faturar R$ 55 milhões em 2023
A expansão da cobertura de fibra óptica no Brasil e o aumento da oferta de provedores regionais de internet estão mudando o mercado de televisão por assinatura. Ao melhorar a qualidade das conexões, a fibra permitiu a popularização da televisão por IP — acessada via internet — em concorrência com a tradicional TV a cabo. Foi lendo esse movimento que a startup Watch Brasil desenvolveu uma plataforma com 1,5 milhões de clientes no Brasil e agora começa a expandir fronteiras por meio de parcerias com Amazon e Kaltura.
De 2021 para 2022, a companhia viu o seu faturamento subir 43,24%, de R$ 21 milhões para R$ 37 milhões, com um EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) positivo de aproximadamente R$ 300 mil. Neste ano, o crescimento deve ser de aproximadamente 32%, com a expectativa de R$ 55 milhões em arrecadação.
O CEO da Watch, Carlos Mendes, veio do mercado financeiro e durante sua estadia nos Estados Unidos, entre 2016 e 2017, pela XP, identificou uma alteração no mercado de TV a cabo no país junto ao sócio Maurício Almeida. “A fibra ótica já estava em plena expansão nos Estados Unidos e começando a expansão de verdade no Brasil”, diz o executivo. “O modelo de disponibilizar conteúdos via televisão a cabo como era no passado passou a se tornar rígido do ponto de vista de modulação e da interação do cliente com o conteúdo. Mas mais que isso, uma plataforma muito cara”, completa.
À época, a rede de fibra óptica no Brasil começava a tomar forma. Segundo dados da Anatel, a quantidade de assinantes com fibra óptica em casa passou de 1.958.039 em dezembro de 2016 para 35.371.064 em setembro de 2023. Esse avanço, promovido em parte pelas gigantes da telecomunicação e em parte pelas companhias regionais, permitiu a redução do atraso e da instabilidade na reprodução de vídeo sob demanda e conteúdo ao vivo.
Diferentemente de empresas como Vivo e Claro, no entanto, provedores pequenos não costumam ter na sua estrutura dedicação à telefonia e à televisão a cabo. “O provedor vê pouco valor agregado na plataforma, ele está usando ela, basicamente, para ter benefício fiscal”, explica Mendes. Ao se associar a um hub de conteúdo, um provedor passa a declarar parte da sua operação como serviço de valor agregado com incidência de Imposto Sobre Serviço (ISS), menor do que o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS).
Segundo Mendes, a Watch viu essa brecha e aproveitou dela como uma porta de entrada no mercado. Para a startup, o ticket médio do contrato com os provedores não é tão significante, então a companhia direcionou seu foco no desenvolvimento de tecnologia e contratos com grandes marcas para aumentar sua demanda junto aos clientes finais das provedoras.
“Usamos recursos para desenvolver uma plataforma tecnologicamente mais moderna, totalmente clara, de SaaS [software como serviço, na sigla em inglês] e sem uso de máquina física [para plugar na televisão]. E junto a isso, ter conteúdo relevante”, explica Carlos Mendes. A oferta da Watch Brasil é composta pelos canais de TV a cabo e streamings — a startup distribui a Paramount+ exclusivamente no mercado B2B e recentemente fechou um contrato com a Globo para streaming. A empresa também possui uma parceria com a HBO Max.
Por meio de uma tecnologia chamada “react”, usada por empresas como Meta, Netflix e Tesla, a empresa conseguiu desenvolver uma plataforma mais leve e com resposta rápida. Isso chamou a atenção da AWS, serviço de nuvem da Amazon, que incluiu a Watch no seu marketplace de cloud. Além disso, a companhia tem uma parceria com a Kaltura, serviço de TV em nuvem, para distribuição para clientes menores, que não estão dentro do escopo de atendimento da companhia por inviabilidade econômica.
As parcerias, anunciadas neste mês, vão servir para o plano de internacionalização da Watch Brasil. A companhia ainda possui apenas três provedores como prospects e cinco colaboradores em uma equipe multidisciplinar dedicada aos negócios internacionais.
No primeiro momento, a penetração da AWS, na leitura da companhia, deve garantir uma penetração no mercado dos Estados Unidos e do México; na Europa, pela Kaltura, em países como Espanha e Bósnia. Até 2025, o objetivo é chegar a 38 negócios internacionais com receita anual prevista de US$ 7 milhões (R$ 34,6 milhões).
Os modelos de negócio serão regionalizados, com oferta exclusiva de conteúdos regionais, como canais de televisão e transmissão esportiva regional. A adaptação é semelhante ao que a companhia já faz no Brasil. Em Manaus, por exemplo, a empresa possui um escritório com 35 funcionários, já que há uma rede de provedores mais pulverizada. Ao mesmo tempo, na região sudeste, de onde vem a maior parte do faturamento, a empresa atua com provedores maiores, responsáveis por atender um volume grande de clientes.
Fonte: Infomoney