Se de um lado a Starlink é hoje a principal desafiadora do status quo no mercado de satélites, ela pode estar em vias de ser a primeira a viabilizar uma nova era tecnológica há alguns anos apontada como um caminho importante para a própria indústria: a conectividade por laser para satélites.
“Vamos lançar comercialmente uma tecnologia chamada ‘plug-and-plaser’ que é basicamente comercializar os nossos lasers e colocar em outros sistemas de satélite. Estamos animados, vamos colocar para rodar com o lançamento da próxima Dragon [espaçonave tripulada da empresa] no Verão”, disse a CEO da SpaceX, Gwynne Shotwell, durante a Satellite 2024. A executiva, destacou ainda estar animada em ter comunicação nas bases na Lua e em Marte.
A tecnologia de comunicação a laser já está presente em outros projetos, como a constelação Lightspeed da Telesat ou na constelação mPower da SES. O tema foi destacado também pelo presidente da SES, Adel Al Saleh, no mesmo painel em que Shotwell fez o anúncio.
“Estamos entusiasmados com a possibilidade de interlinks entre satélites diferentes e diferentes constelações. Isso abre uma era inteiramente nova para big data. Vamos poder demonstrar com a PlanetLabs [uma empresa especializada em serviços de observação da Terra], pegando o dado deles e levando à uma constelação MEO, e trazendo de volta para a Terra em tempo real”, exemplifica.
O que a SpaceX desenvolveu para seus satélites e já colocou em operação na nova geração de satélites Starlink basicamente possibilita criar uma rede de dados no espaço, sem a necessidade de muitos gateways (estações de recepção e transmissão) em terra.
Tipicamente, quando um sinal de banda larga trafega para o satélite, ele precisa passar por um gateway terrestre para ser roteado para a Internet, e depois retornar a outro satélite da constelação, em um processo que consome tempo da rede (aumentando a latência) e compromete a velocidade, além da necessidade de investimentos em muitos gateways.
Já a conexão a laser entre os satélites permite essa troca de informação direta no espaço, com apenas um ponto de comunicação com a Terra. Será a mesma tecnologia utilizada para conectar estações espaciais, estações lunares e eventualmente em Marte.
A novidade da estratégia da SpaceX, não detalhada, é oferecer isso a outros operadores. Seria uma espécie de backhaul óptico entre satélites, algo que precisa passar, obviamente, por questões de padronização para uso com outros equipamentos e, principalmente, aumenta a discussão sobre soberania das informações.
Hoje, os gateways são considerados ativos estratégicos dentro das constelações de satélite. Para uma operadora vender um serviço a um governo, não raro ela assegura a instalação do gateway no território daquele país para que haja um mínimo de controle. Constelações baseadas em conectividade a laser ficam muito mais dependentes da governança do operador (apesar de serem mais seguras).
Em entrevista a este noticiário em 2022, o então CEO da SES, Steve Collar, havia apontado a tecnologia de conectividade óptica entre satélites como uma ferramenta importante e segura para a distribuição de chaves de criptografia, por exemplo, pela sua baixíssima latência e altíssima segurança.
Fonte: TELETIME